As iniciativas e experiências formativas desenvolvidas pela ECO/CUT, ao longo dos seus 27 anos de existência, têm sido desenvolvidas com o objetivo do fortalecimento e consolidação da Política Nacional de Formação da CUT – PNF/CUT através de um conjunto de ações educativas que conduzem os trabalhadores e trabalhadoras a constantes debates e uma sistemática reflexão não só sobre a formação sindical, mas também sobre a construção de um modelo de desenvolvimento regional e para o país, a uma transformação da sociedade e sobre o fortalecimento da consciência classista.
Assim, a capacidade multiplicadora e potencializadora da ação formativa da ECO/CUT, vêm rompendo as barreiras da formação sindical e da formação política à medida que abrange em suas práticas formativas e pedagógicas a observação da condição humana, os compromissos com a sociedade, a valorização dos saberes e do conhecimento popular, as novas dimensões e perspectivas do trabalho, a formação integral do (a) trabalhador (a), a luta de classe e especialmente a reflexão sobre uma educação popular e libertadora.
Nesse sentindo, entendemos que dentro da concepção pedagógica e política assumimos o papel da educação popular, forjada pelos trabalhadores e trabalhadoras em suas lutas constantes e que dão sustentação aos nossos cursos de formação. “Uma educação que é popular não porque o seu trabalho se dirige a operários e camponeses excluídos prematuramente da escola seriada, mas porque o que ela ‘ensina’ vincula-se organicamente com a possibilidade de criação de um saber popular, através da conquista de uma educação de classe, instrumento de uma nova hegemonia.” (Brandão, 1986)
Esse fazer educativo e pedagógico da ECO/CUT seja dentro das atividades de formação sindical ou das ações de formação político-ideológicas destinadas aos trabalhadores e trabalhadoras permitem a ampliação dos nossos espaços formativos, possibilitando a nossa atuação em parcerias com a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego – SENAES/MTE para a formação em economia solidária, desenvolvimento sustentável solidário e superação da pobreza e também a formação em desenvolvimento territorial com perspectiva de gênero nos territórios da cidadania em parceria com a Diretoria de Políticas para as Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário – DPMR/MDA.
No desenvolvimento das ações do Programa Nacional de Formação Sindical da CUT – PNFD/CUT, no período entre 2014 e 2017, a Escola Centro-Oeste Apolônio de Carvalho, desenvolveu o Plano Nacional de Formação da Dirigentes da CUT, na Região Centro-Oeste, pautada por dois eixos de ação sindical:
Eixo 1 – Fortalecimento da Base, neste eixo os conteúdos foram voltados para a compreensão do processo de construção do movimento sindical no Brasil e no Mundo, as mudanças no comportamento da classe trabalhadora e os efeitos das constantes transformações tecnológicas e estruturais do sistema de produção no local de trabalho e na sociedade contemporânea. Por meio do curso Organização e Representação Sindical de Base – ORSB, em parceria com as CUTs Estaduais, mais de 300 trabalhadores e trabalhadoras sindicalistas puderam refletir sobre o que é sindicato, ou o que é e representa um sindicalista Cutista? Quais os princípios que regem a ação sindical Cutista? O que somos? O que defendemos?
o que queremos? Desta forma importante também se fez perguntar e refletir com quem falamos? Quem defendemos? Contra quem Lutamos?
Neste sentido, os ORSB’s trouxeram elementos históricos e culturais que caracterizam a Região, como uma cultura agrária, machista patriarcal e a influência dos coronelismos na cultura política do Centro-Oeste, buscando construir coletivamente o conhecimento necessário para uma prática sindical do cotidiano e sua conexão com realidade social, mesmo porque é preciso compreender melhor a sociedade de à qual sua base está inserida, seus anseios, sua formação, suas perspectivas e claro seus sonhos.
O Eixo 2 – Disputa de Hegemonia: Democratização do Estado e Construção de um Novo Modelo de Desenvolvimento. A partir do 4º CONCUT, em 1991, a CUT, procurou associar a intervenção combinada no local de trabalho à atuação nos espaços institucionais, visando a reorientação do modelo de Desenvolvimento. Na prática, o sindicalismo cidadão era percebido na ampliação das bandeiras de luta do sindicalismo CUT; na busca por influir nos direitos sociais, políticas públicas, economia solidária, geração de trabalho e renda, desenvolvimento regional sustentável solidário, dentre outros temas avançando em campos políticos antes não inclusos na agenda prioritária da CUT.” (Caderno DPPAR 2013).
“A CUT tem um papel fundamental na atualização da agenda do desenvolvimento do País e o 11º CONCUT (2012, p.21) aprovou: “priorizar e ampliar a participação da CUT nos diversos espaços institucionais, como Conselhos, Fóruns, Comissões, Grupos de Trabalho (GTs) etc., nos âmbitos nacional, estadual e municipal, além da atuação CUTista nas conferências de políticas públicas e nos fóruns internacionais – tarefas que buscam ampliar o controle social sobre o Estado” (caderno de resoluções 14ª Plenária Nacional da CUT). Neste sentido a partir de 2013, com o processo de acúmulo e formulações, a construção do debate e a sistematização de experiências, em torno da territorialidade, da economia solidária, e do desenvolvimento sustentável, levou a elaboração de um novo eixo da PNFD, o Desenvolvimento de Políticas Públicas e Ações Regionais – DPPAR atendendo não só a necessidade de capacitar os dirigentes CUTistas que atuam em Conselhos, mas também ampliar as reflexões de territorialidade entendo-a como espaço de formação, de identidades e culturas e consolidar um quadro de dirigentes sindicais que sejam capazes de intervir nos espaços de gestão com maior qualidade política fortalecendo a sua estratégia de intervenção propositiva, na disputa de projetos de sociedade e de Estado. Assim com cursos desenvolvidos pela ECO/CUT na Região, percebeu-se que a discussão das ações sindicais a partir de uma política territorial, pode contribuir para a sensibilização da classe trabalhadora, tanto quanto a necessidade de se construir uma identidade de classe, por meio de sentimentos de pertencimento, da ascensão comum e de traços historicamente construídos a partir do lugar.
“Questionar o capitalismo a partir da opressão às mulheres tem como um de seus elementos centrais a compreensão de que a opressão e mercantilização da vida das mulheres estruturam seu modelo atual. No Brasil, as mulheres são maioria no trabalho precário (ausente de proteção social e de direitos sociais e sindicais), com baixos salários pouca exigência de qualificação”. (caderno de resoluções 14ª Plenária Nacional da CUT).
As mulheres trabalhadoras rurais e os povos das águas são protagonistas da luta contra o agronegócio, pela defesa dos bens comuns e pela afirmação da agroecologia como meio de produção de alimentos saudáveis, fundamental para a garantia da soberania alimentar. Neste sentido e pela luta por trabalho decente para todas as mulheres, do campo e da cidade, a ECO/CUT em parceria com a Diretoria de Políticas para as Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA vem desenvolvendo formação com as mulheres trabalhadoras rurais dos territórios da Cidadania da Região, que consiste principalmente em contribuir com a criação e o fortalecimento dos comitês de mulheres trabalhadoras rurais nos territórios da cidadania como mecanismo de potencializar a participação das mulheres nos colegiados territoriais e nas demais instâncias de decisão, monitoramento e avaliação das políticas públicas para o desenvolvimento rural sustentável e capacitar o acesso das mulheres às políticas públicas de inclusão produtiva no sentido da qualificação a demanda das mulheres em políticas públicas de inclusão, como também construir uma publicação que retrate o cotidiano das mulheres rurais e suas demandas para socialização do trabalho doméstico e do cuidado, considerado como estratégico para ampliação e qualificação do trabalho das mulheres na produção. Ainda dentro deste eixo, as questões relacionadas à juventude no mundo contemporâneo vêm ganhando muita relevância nos diferentes espaços sociais: partidos, igrejas, governos, movimento sócias e sindicatos.
Mas este não é um debate novo para a sociedade. Desde os anos de 1960/1970, o movimento operário e a Igreja Católica têm a juventude entre suas prioridades de ação, pois organizar a juventude compõe uma ação estratégica à disputa de hegemonia na sociedade. Segundo dados da OIT, em seu relatório anual sobre tendências do emprego no mundo (2013), a juventude tem sido um dos grupos mais afetados pela crise mundial, a ponto de muitos jovens terem desistido de procurar emprego, sendo que no Brasil, apesar da queda significativa da taxa de desemprego nos últimos dez anos, a taxa de desemprego da juventude ainda se mantém em patamares elevados: 22,3% para jovens de 16 a 24 anos – semelhante às taxas de desemprego em regiões fortemente impactadas pela crise econômica, como aquelas verificadas na Europa. Assim no ano de 2014, a ECO/CUT desenvolveu a primeira turma do Curso de Formação de Formadores de Jovens Dirigentes, sendo que 45 jovens sindicalistas puderam refletir sobre os conteúdos como a intencionalidade das ações da Juventude, os Movimentos Sociais, o Poder Público, a Sociedade, Políticas Públicas para a Juventude, Juventude como construção social na perspectiva da luta de classes, Juventude no Mundo Contemporâneo e o Jovem como modelo cultural. Sendo assim, o curso suscitou nos participantes o desejo de luta constante pela ampliação e efetivação de direitos para juventude e o debate sobre desenvolvimento e trabalho.
Por meio do projeto de formação estabelecido pela CUT, e da parceria da ECO/CUT com o SINPRO – DF, que completa 15 anos este ano, a categoria pôde desenvolver uma nova forma de organização, por meio do resgate da organização da categoria a partir da reflexão de conteúdos significativos como a disputa de classe, os princípios e concepção da CUT, a organização no local de trabalho, raça/etnia, a emancipação da mulher e o combate a violência domestica, e outros temas que abrangem não só a luta da categoria, mas, a organização social na ótica dos trabalhadores e trabalhadoras. Entre 2014 e 2019 foram mais de 2.880 dirigentes e representantes sindicais entre ativos e aposentados do SINPRO – DF, que estiveram envolvidos nos cursos de formação com a ECO/CUT, desenvolvendo a formação com foco na concepção de Educação integral, que abrange as dimensões da educação informal e formal, buscando continuamente o reconhecimento social e institucional do saber acumulado dos trabalhadores e trabalhadoras, na vida em geral e no trabalho em especial.
Certamente entendemos que é uma nova forma de pensar, construir e fortalecer pedagogicamente o papel da formação, mas também de reafirmamos o caráter ideológico de nossa prática formativa sempre permeada pelos princípios da formação cutista. “Temos certeza que as nossas ações formativas têm mudado os corações e as mentes dos que passam por elas, ao se apropriarem das ferramentas de análise e de construção e re-construção coletiva de conhecimentos.” (Sueli Veiga Melo, Coordenadora Geral ECO/CUT, 2012)
Jodat Jawabri
César Azevedo
Educadores ECO/CUT
Bibliografia Consultada
- Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9.394/96
- BRANDAO, C. R. (1986). Educação Popular. 3ª ed. SP, Brasiliense
- MANFREDI, Silvia Maria. Formação sindical no Brasil: história de uma prática cultural. São Paulo: scrituras Editora, 1996
- Política Nacional de Formação – História, princípios, concepção e organização nacional, agosto de 1999
- Caderno de Resoluções da 14ª Plenária Nacional da CUT
- Caderno de Formação Sindical DPPAR, 2013
- A Pedagogia do Cerrado, Revista ECO/CUT, ano 20
- Revista Forma & Conteúdo nº 15, 2011
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