A Formação da CUT nos Territórios Rurais e de Cidadania no Distrito Federal e nos Estados de Goiás e Minas Gerais (2008/2016)

A ECO/CUT, ao longo dos seus 27 anos, vem realizando diversas atividades formativas na região: cursos, seminários, encontros, palestras, projetos, programas, assessorias, dentre outras atividades e atuando em diversos níveis de formação: educacional, política, social e sindical dos trabalhadores e trabalhadoras, buscando aprofundar coletivamente uma concepção de formação e educação, que privilegie os saberes, os valores, os conhecimentos, as vivências e as experiências acumulados pelos trabalhadores/as ao longo de suas vidas.

Ao longo desse tempo, a ECO/CUT ampliou sua formação para além do movimento sindical, passando a atuar na formação com os Territórios Rurais e de Cidadania.

Em 2008, a ECO/CUT fez uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Secretaria de Desenvolvimento Territorial (as atividades se iniciaram em 2011), para desenvolver o Programa de Ações Territoriais nos Territórios Rurais e de Cidadania do Estado de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, com duas frentes de atividades:

  1. atividades de formação, com cursos, seminários, oficinas e assessorias voltadas para as políticas territoriais e,
  2. elaboração, revisão e qualificação dos PTDRS – Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Dentre as atividades, que foram e serão desenvolvidas, destacamos:
• Curso de Formação de Agentes de Desenvolvimento Territorial.
• Seminário para a inserção da Juventude no Desenvolvimento Territorial.
• Curso de Formação nos Referenciais da Gestão Social do Desenvolvimento Territorial.
• Curso de Formação de Formadores em Desenvolvimento Territorial
• Oficinas de Cultura e Desenvolvimento Territorial.
• Seminário Estadual de Educação do Campo.
• Oficinas Territoriais de Educação do Campo.
• Intercâmbios de Educação do Campo.
• Curso de formação em Planejamento Territorial.
• Curso de formação controle social da gestão social dos colegiados

A primeira fase do Projeto foi de elaboração, revisão e qualificação dos PTDRS – Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável, onde foram elaborados os PTDRS dos Territórios:

  1. Território da Cidadania Chapada dos Veadeiros (Goiás).
  2. Território da Cidadania Das Águas Emendadas (Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais).
  3. Território da Cidadania Vale do Paranã (Goiás).
  4. Território da Cidadania Vale Rio do Vermelho (Goiás).
  5. Território Estrada de Ferro (Goiás).
  6. Território Médio Araguaia (Goiás).
  7. Território Vale São Patrício (Goiás).

A concepção do Programa e de todas as ações é a idéia de que as funções da agricultura e todas as dimensões do desenvolvimento local convergem para o Território, para a preservação e valorização dos seus recursos: humanos, relações econômicas, naturais, patrimoniais e o acolhimento e bem-estar oferecido pelo Território. O Território está, portanto, no centro de uma abordagem global da agricultura e é o agregador de diversas dimensões. Entendendo este, como ocupação de lugar e do espaço, uma necessidade da sociedade para estabelecer suas relações.

A adoção do desenvolvimento territorial como estratégia de execução dos programas e ações considera a identidade um elemento fundamental do território, relacionando-o com suas origens, modos de produção e ocupação dos espaços, com o contexto social e com um futuro mais solidário e independente para os trabalhadores/as do setor rural.

Compreender a formação da identidade territorial é fundamental para se pensar, propor ações, projetos e planos para as populações que vivem no campo. Para que o rural se apodere de sua capacidade de transformar a realidade, assumir responsabilidades com o próprio destino e participar como sujeito do desenvolvimento nacional.

Trata-se fundamentalmente de uma visão inovadora, mesmo que com dimensões diversas. Definidas por uma prática solidária, responsável e humana e por concepções comprometidas com o meio ambiente, com o futuro do planeta e com a vida das pessoas.

Território é uma categoria política social. Identidade é movimentação, historicamente determinada e determinante, de inserção comunitária, sempre construindo e definindo características próprias gerando apropriação por parte das pessoas em seus espaços.

A opção é afirmar e reconstruir paradigmas, um deles, o de que o desenvolvimento não é simplesmente um movimento de acúmulo do capital. Desenvolvimento é movimentação coletiva, que envolve mudanças sociais, culturais, econômicas, políticas e, fundamentalmente, humanas. Envolve identidade. Envolve território.

Na sequência, em 2013, a ECOCUT, firmou parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Secretaria de da Mulher Trabalhadora Rural (Convênio nº 792227/2013 ECOCUT – DPMR/MDA), para desenvolver o Programa de Apoio às Mulheres Rurais e Quilombolas no Desenvolvimento Territorial, nos Territórios da Cidadania do Vale do Paranã, Chapada dos Veadeiros e Águas Emendadas – GO/DF, Da Reforma – MS e Baixada Cuiabana – MT.

O Projeto MDA-Mulheres envolveu a realização de cursos, seminários, oficinas e publicações:

• 03 Cursos Estaduais de Articulação dos Territórios da Cidadania do Vale do Paranã, Chapada dos Veadeiros e Das Águas Emendadas – GO/DF; Território da Cidadania Da Reforma – MS e Território da Cidadania Baixada Cuiabana – MT.

• Seminário Regional de Divulgação dos Resultados das Conferências Territoriais, Estaduais e Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável – GO/DF/MT/MS.

• 03 Seminários Estaduais com representantes dos Comitês de Mulheres Rurais dos Territórios da Cidadania do Vale do Paranã, Chapada dos Veadeiros e Das Águas Emendadas – GO/DF; Território da Cidadania Da Reforma – MS e Território da Cidadania Baixada Cuiabana – MT.

• 03 Oficinas de Construção de um Plano de Articulação dos Territórios da Cidadania do Vale do Paranã, Chapada dos Veadeiros e Das Águas Emendadas – GO/DF; Território da Cidadania Da Reforma – MS e Território da Cidadania Baixada Cuiabana – MT.

• Curso Regional de Capacitação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural Sustentável.

• Publicação sobre a realidade das mulheres, inclusão produtiva e socialização do trabalho doméstico e dos cuidados.

O Programa foi instituído por considerar que, ao longo da história, as políticas públicas não levavam em conta as desigualdades de gênero no meio rural e não desenvolviam estratégias para estimular a inclusão das mulheres na economia. Além disso, era urgente, a necessidade de consolidar e ampliar as políticas públicas para as mulheres, a partir da promoção da igualdade de gênero. O programa, partia, ainda, da consideração de que as ações a serem desenvolvidas deveriam estar articuladas a uma política pública integrada para o desenvolvimento rural sustentável, com enfoque nas atividades produtivas e nas políticas agrárias, com democracia de gênero e, considerava a necessidade da construção de uma estratégia de fortalecimento dos espaços coletivos democráticos, reforçando a presença e a participação das mulheres rurais.

Ao longo das diversas atividades realizadas, debateu-se, refletiu-se e sistematizou-se muito sobre o lugar ocupado pela mulher na agricultura familiar e a invisibilidade do seu trabalho produtivo, marca de uma divisão sexual do trabalho que se expressa na sua responsabilização pelo trabalho doméstico e de cuidados, e na realização de atividades na esfera produtiva, voltadas para o consumo familiar, tais como, a criação de aves e pequenos animais, a horticultura e a floricultura, apesar de ser importante a sua participação, também, na lavoura; sobre o reconhecimento da mulher rural como sujeito produtivo, fundamental na dinamização da economia rural; sobre o pouco acesso das mulheres à infraestrutura produtiva e, sobre as ações que buscavam estimular a articulação, a organização e a participação das mulheres rurais nos colegiados territoriais, a partir de uma ação de política pública, uma vez que sua participação nas instâncias colegiadas era frágil e precisava ser estimulada.

Ambos projetos, foram espaços fantásticos de produção e construção coletiva de conhecimentos, que envolveram sindicatos de trabalhadores (as) rurais e da agricultura familiar, universidades, organizações sociais, assentados (as), acampados (as), jovens, aposentados (as) e os trabalhadores (as) em geral; proporcionaram grande envolvimento e trouxeram enriquecimento de conteúdo e pedagógico para a ECO/CUT.

Para nós da ECO/CUT estar inseridos nesta discussão é motivo de orgulho, pois, cada vez mais reafirma o nosso papel de contribuir para que a formação seja um instrumento de luta por um mundo melhor para todos/as.

Lamentavelmente, o que se observa, é o abandono da política de desenvolvimento territorial. A partir do ano de 2014, houve queda nos programas e ações do governo federal voltados para o desenvolvimento territorial. Após o Golpe, em 2016, os programas, praticamente deixaram de existir.

Jeová de Lima Simoes
Professor, Advogado e Educador Colaborador da ECO/CUT

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