A caminho da COP26
O presidente Bolsonaro indicou Salles como chefe de negociações da assim chamada Cúpula dos Líderes sobre o Clima, relegando a segundo plano todos os membros do gabinete que teriam algo para dizer sobre o assunto. E há muito em jogo: o novo presidente americano, Joe Biden, convidou para o encontro 40 chefes de Estado e de governo. Trata-se de uma reunião preparatória para a cúpula do clima COP26 de novembro em Glasgow. Os Estados Unidos querem obter desde já, dos grandes causadores de gases do efeito estufa, comprometimentos quanto a suas emissões de CO2. Aí, na conferência na Escócia, seria possível finalmente aprimorar as metas do Acordo de Paris de 2015. E agora, com sua exigência bilionária, Salles quer que a comunidade mundial pague ao Brasil antecipadamente pela floresta existente, ou seja, por dióxido de carbono capturado. Pelo Fundo Amazônia, criado pela Noruega e também pela Alemanha para proteção da floresta, verbas fluiriam anualmente a posteriori caso o Brasil reduzisse comprovadamente o desmatamento. Como o governo Bolsonaro não pode ou não quer fazer isso, as transferências foram suspensas.Reivindicar em vez de passar o pires
E no entanto o sistema “dinheiro em troca de proteção florestal” poderia funcionar bem: diversos Estados, conglomerados privados e doadores multilaterais, como o Banco Mundial, seguramente estariam dispostos a investir muito para apoiar o Brasil. O país só teria que provar, ou assegurar de forma confiável, que pode e quer preservar a Floresta Amazônica. Em vez disso, o atual governo desmonta todas as instituições e corta verbas, de modo que a destruição da Amazônia se acelera cada vez mais. Ao pedir 1 bilhão de dólares, é como se o ministro do Meio Ambiente quisesse que o corpo de bombeiros lhe desse uma gorjeta para que este apagasse o fogo na própria casa dele. O governo tenta lucrar com o impedimento da própria catástrofe: “A estratégia ambiental do governo é equivocada, míope e de curto prazo”, criticou o ex-ministro da Agricultura Pedro de Camargo Neto, ao jornal O Estado de S. Paulo. Pois, com sua matriz energética sustentável, de hidrelétricas e biocombustíveis, o Brasil poderia se apresentar de forma bem diferente no Dia da Terra, impondo condições, não como solicitante. O país deveria exigir dos Estados que mais produzem gases do efeito estufa – União Europeia, China, Rússia Índia – que reduzam suas emissões. Camargo Neto aponta o caminho: “Nós, que podemos sofrer o desastre que eles estão provocando e podemos pagar o pato. Nós teríamos de estar numa posição de força, pressionando, não querendo passar o pires.” Materia Original[learn_press_profile]