Em tempos de ataques aos direitos, à democracia e de grandes mudanças no mundo do trabalho, qual o papel da Formação CUTista?

“Os únicos derrotados são os que cruzam os braços, os que se resignam à derrota.


A vida é uma luta e uma luta permanente, com avanços e retrocessos (…)

(…) aprendemos com os erros cometidos e recomeçamos (…).


(…) não devemos acreditar que quando vencemos tocamos o céu com as mãos

(…) Apenas subimos alguns degraus.
Devemos ter humildade do ponto de vista estratégico.
Não existe vitória definitiva nem derrota definitiva.”

– Pepe Mujica – Ex Presidente do Uruguai –

Formação, organização e luta não se dissociam e potencializam, através da práxis, a consolidação de uma CUT forte e representativa na base. Há 35 anos, a CUT teve como desafio construir uma política de formação estratégica e permanente capaz de contribuir com o projeto político-organizativo da Central para responder aos desafios históricos e conjeturais da classe trabalhadora.

Nossa formação tem como princípios basilares constituir-se classista e de massas, indelegável, democrática, plural e unitária, unificada e descentralizada, processual, permanente, planejada e sistematizada, instrumento de reflexão crítica e de libertação. A Formação sindical CUTista considera a integralidade do ser humano, é contra as discriminações e tem múltipas dimensões – política, cultural e técnica.

A Política Nacional de Formação é um dos pilares estratégicos para a implementação do projeto político e organizativo da CUT e o Plano Nacional de Formação sempre está articulado ao Plano de Lutas da CUT, acordado em cada CONCUT.

O desafio atual de nossa Central é atualizar seu projeto político-organizativo para ampliar a representação e o fortalecimento da Central em tempos de grandes transformações no mundo do trabalho. Neste sentido nossa 4ª Conferência Nacional de Formação, espaço coletivo para debater e formular as diretrizes, estratégias, e concepção metodológica de nossa política de formação, escolheu três eixos para reflexão: Futuro do Trabalho, Defesa dos Direitos, da Democracia e do Socialismo, Projeto Político-Organizativo da CUT em sintonia com o 13º CONCUT que estabeleceu, igualmente, três eixos para o seu plano de Lutas: Derrotar a coalizão de forças golpistas, defender os direitos, a democracia e a soberania Nacional; Intensificar a luta pelo desenvolvimento sustentável com soberania popular, igualdade e valorização do trabalho;  Ampliação da representação e fortalecimento da organização, com atualização do Projeto Político-Organizativo da CUT.

Nosso Plano Nacional de Formação tem de considerar além da formação de base, de dirigentes, da rede e formação profissional, a formação de massa, compreendendo que nosso público é a classe trabalhadora e como tal, composta de imensa diversidade: juventude e idosos, mulheres, população negra e indígena, LGBTQI+, pessoas com deficiência, migrantes. Devemos superar a limitação dos enfrentamentos e processos organizativos na sociedade e no mundo do trabalho. A Formação CUTista deve continuar com ações específicas para a juventude trabalhadora em conjunto com a Secretaria Nacional da Juventude, considerando as especificidades do campo, das cidades, do setor público e privado, visando a qualificação de quadros para assumirem as direções sindicais em todas as instâncias da CUT. Igualmente, a formação deve incorporar efetivamente a participação de trabalhadores e trabalhadoras aposentados/as, pensionistas e idosos/os nos seus respectivos programas de formação.

Para enfrentar o grande ataque das forças golpistas precisamos articular nossa Rede para além dos sindicatos. Assim a Rede de formação CUTista precisa aprofundar a estratégia de inserir em seu campo de ação programas e conteúdos que vão dialogar com as demandas do conjunto da classe trabalhadora em suas atividades de formação, respeitando a concepção metodológica, Prática-Teoria-Prática e o Projeto Político e Organizativo da CUT, considerando para isso: temas de interesse da classe trabalhadora, uma abordagem a partir da realidade local, visando a construção da consciência de classe e a ação organizada. É preciso que cuidemos da linguagem: forma e conteúdo são importantes para falar com a classe trabalhadora: o teatro, as batalhas de poesia (slam), os festivais, grupos de tambores, torneios esportivos, cursos teóricos e profissionalizantes etc. Neste sentido, fortalecer nossas escolas sindicais é fundamental, assim como ampliar nossa rede de militantes formadores.

A formação precisa ir aonde a classe trabalhadora está, considerando que vivemos em um país de dimensão continental, com imensa diversidade territorial, nossas ações formativas devem levar em conta as diferenças do campo e cidade, capital e interior, litoral, territórios ribeirinhos, regiões de fronteiras, assim como devem ser realizadas nos diversos locais onde os diferentes grupos de trabalhadores e trabalhadoras estão: bairros, unidade produtiva familiar, local de trabalho, praças, espaços de produção e expressão artística e cultural, espaços de esporte e lazer, mundo digital etc.

Nossa Rede precisa promover pesquisas de cadeias globais/de valor onde se encontram os trabalhadores e trabalhadoras sem acesso a direitos trabalhistas, sem garantia de condições dignas de trabalho e cidadania, para elaboração de propostas de formação e conscientização sobre a sociedade de classes e ação organizada como forma de enfrentamento. Promover atividades de curta duração nos sindicatos de base (rurais e urbanos) para juventude trabalhadora, independentemente dos vínculos contratuais ou sindicais. Tais atividades formativas devem abordar conteúdos e linguagens em que os protagonistas sejam os próprios jovens, paralelamente à elaboração de projetos. Atender às demandas por serviços que já oferecemos às bases sindicalizadas, ampliando-os para a classe trabalhadora precarizada em cooperação com associações profissionais e não profissionais e sindicatos.

Formular projetos de formação sindical para a captação de recursos em diversas áreas: diversidade, saúde, educação, cultura, gênero, raça etc., a partir dos temas identificados.  Considerando as experiências, conhecimentos, campo de ação, organicidade com movimentos, possibilidade de intervenção, devemos criar frentes estratégicas, definindo níveis de aprofundamento em relação aos temas e aos planos de ação.

Nesses tempos de criminalização dos movimentos sociais e entidades de classe, prover a sustentação financeira da Política Nacional de Formação, por meio da solidariedade da classe trabalhadora, é condição para a resistência e luta contra nossos inimigos de classe. Formação é investimento para consolidar nosso projeto político e organizativo. Pensar o financiamento da Formação é pensar a manutenção de todas nossas estruturas: nossos sindicatos, ramos e central, financiamento assentado no nosso maior esteio: a classe trabalhadora e sua confiança em nossa representação. Assim quanto mais ampliarmos a formação de base maior será a sindicalização, mais forte ficará a nossa luta e consequentemente o financiamento para formação, organização e mobilização. A 4ª Conferência de Formação nos ensinou que a classe trabalhadora pode autossustentar a luta, precisamos recuperar nossas práticas históricas de financiamento.

Nossa 4ª Conferência também mostrou a importância da mística como instrumento pedagógico, como prática político-pedagógica. As escolas sindicais e as secretarias estaduais de formação tiveram um papel fundamental nos momentos mágicos e de encantamento que permearam toda a nossa Conferência. As místicas presentes em todos os dias na 4ª Conferência em Belo Horizonte trouxeram a riqueza de nossa diversidade. Durante todas as etapas do processo de nossa conferência, ela foi um fio condutor para nos recordar quem somos, de onde viemos, para onde almejamos ir. Em cada música, poema, em cada abraço, cada gesto revivíamos coletivamente nossa história feita de lutas, tristezas, mas também de afeto e alegria.

Por fim, mas não menos importante, nosso Plano Nacional de Formação da CUT, com atividades preponderantemente presenciais, deve incluir de forma complementar em seus processos de formação o uso da Plataforma Compartilhada Digital (cursos online, banco de dados, fóruns de debate, compartilhamento de materiais, atividades colaborativas, videoconferências entre outras possibilidades), integrando este instrumento às estratégias organizativas e formativas da CUT. Para isso a Secretaria Nacional de Formação está realizando um curso técnico para capacitar educadores e formadores militantes de nossa rede no uso da Plataforma na Formação Sindical. A plataforma é um meio, como são outros instrumentos pedagógicos que lançamos mão em nossas formações, depende de nossa intencionalidade a humanização do meio digital.

Todos esses desafios da Formação não são restritos à rede de Formação, eles são desafios de toda CUT e devemos assumir coletivamente a tarefa de construir e aprimorar nossas práticas formativas para consolidar o projeto político-organizativo que desejamos.

 Rosane Bertotti

Secretária Nacional de Formação da CUT

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By ecocut

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