O processo de organização e luta por direitos da classe trabalhadora, além de mobilizações, greves, reivindicações, do trabalho de pressão feito por sindicalistas em instâncias de poder como o Congresso Nacional, para que parlamentares votem a favor dos interesse dos trabalhadores e trabalhadoras em projetos de lei, passa também pela articulação e pela organização interna das entidades sindicais.
Nesses 40 anos, a cada plenária e a cada congresso da CUT, novas decisões foram tomadas, redefinindo posicionamentos e reconstruindo as estruturas da Central para que ela pudesse chegar até onde chegou, nos dias de hoje, viva, forte e combativa.
Um desses processos de reestruturação foi a conquista da paridade de gênero nos cargos de direção da Central, que ocorreu em 2012 durante o 11° Congresso da CUT (CONCUT). Mais do que corrigir uma distorção cultural e histórica da sociedade, baseada no machismo estrutural, a iniciativa visava estabelecer às mulheres o lugar de direito em espaços de poder dentro do movimento sindical.
A resolução da paridade trazia a disposição que, a partir das próximas eleições de direções no ano de 2015, tanto a Executiva nacional quanto as estaduais da CUT deveriam reservar ao menos 50% de cargos para cada gênero, consagrando o assim princípio da equidade e da igualdade de oportunidades, em que homens e mulheres devem ter o mesmo espaço de poder e decisão na CUT.
“Nossa luta não foi fácil. A CUT se reestruturou ampliando seu quadro de dirigentes para garantir o espaço às mulheres. Apesar de a paridade na CUT ter sido um ato pioneiro, ainda precisamos – e muito – avançar nessa questão”, afirma a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Junéia Batista.
Ela explica que desconstruir conceitos retrógrados e nocivos como o machismo, o racismo, a homofobia, a xenofobia, é algo que não se faz da noite para o dia, uma vez que se trata de uma construção social e histórica, que envolve seres humanos que, por natureza, são falhos.
“Mas, dentro da Central, a consciência de classe e de justiça social sempre fala mais alto e, apesar de todas as dificuldades, demos um grande passo”, diz Junéia.
Paridade qualificada
A dirigente explica, ainda, que a luta pela paridade e por espaços de poder é uma luta constante. “Queremos estar nos principais espaços de decisão da CUT. E é tempo para isso. Em alguns momentos já ocupamos cargos como a Secretaria Geral, com a companheira Carmen Foro, mas precisamos estar lá definitivamente – na Presidência, na Secretaria de Administração e Finanças, nas Relações Internacionais, lugares que os homens até agora ocuparam”, diz Junéia.
Queremos o compartilhamento efetivo das decisões. Nós, mulheres, parimos a outra metade da humanidade. É importante que a sociedade machista entenda isso, tenha consciência do nosso papel e lugar de direito. E dentro da CUT trabalhamos para isso, a partir de nossa própria estrutura
Foco, e ponto importante da paridade, é a efetiva organização e conscientização das mulheres trabalhadoras para intervir no mundo do trabalho e no movimento sindical sobre questões que impactam suas vidas, o que se traduz em construção de políticas de gênero, com base nos princípios e fundamentos da CUT.
Pioneirismo
Junéia Batista pontua que a decisão de estabelecer a paridade na CUT serve de referência para outras entidades do movimento sindical, inclusive centrais, para que também adotem essa tão importante iniciativa de combate ao machismo e promoção de ocupação dos espaços de poder.
“Precisamos ainda avançar no tema no interior da CUT e isso faz parte de toda e qualquer construção de uma sociedade melhor. Mas foi um ganho porque temos homens que foram desconstruídos do machismo. Apesar da necessária autoanálise, sobre o que precisamos ainda fazer, a paridade dentro da CUT tem papel importante para outras mulheres, que devem lutar por cotas, por espaços de poder e decisão, pela igualdade. Conseguimos muitas coisas na caminhada que fizemos até agora, mas precisamos avançar nessa pauta”, conclui Junéia