Neste 25 de Novembro, Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, uma reflexão fundamental é a de que em pleno século 21, quando a humanidade já deveria apresentar sinais de evolução nas relações sociais, o que se vê é justamente o contrário. E os números mostram isso. Nesta data, que faz parte do Calendário dos 21 dias de ativismo contra a violência contra a mulher, a denúncia recai sobre o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), cuja conduta estimula o aumento da violência.
Um relatório feito pelo Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que em 2021, uma em cada quatro mulheres com mais de 16 anos sofreu algum tipo de violência doméstica no país.
O documento mostra também que durante todo ano de 2020, 1.350 mulheres foram vítimas de feminicídio, número 0,7% maior que no ano anterior. O número de chamadas por violência doméstica para o 190 (Polícia Militar) subiu 16,3% e chegou a 694.131 no ano passado.
O relatório do Fórum Brasileiro de Segurança revela ainda que somente este ano, 17 milhões de mulheres sofreram agressões. Quase 49% dos casos aconteceram no ambiente doméstico. Somente no primeiro ano de governo Bolsonaro os casos já tinham aumentado 27%.
O período coincide justamente com a pandemia do novo coronavírus em que os homens passaram a ficar mais tempo em casa junto das mulheres, e com o aumento da miséria no país, consequência da política do governo de Jair Bolsonaro, que privilegia a elite econômica e condena os trabalhadores e trabalhadoras mais pobres ao desemprego e à fome.
“Em todos os tempos de crise econômica e social, os impactos recaem de forma muito mais cruel para as mulheres. Além do aumento da violência física e psicológica contra elas, é uma violência serem as primeiras a sentir os impactos econômicos, perdendo seus empregos e passando fome”, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Juneia Batista.
Tempos sombrios sob o governo Bolsonaro
Para a dirigente CUTista, o Brasil sob o governo de Bolsonaro é um tempo de barbárie. “Este dia de combate à violência contra a mulher ocorre em um momento atípico. A situação de fome e miséria aumenta a chance de violência”, diz se referindo aos efeitos sociais da pandemia. Juneia diz ainda que nos anos anteriores, o Brasil tinha um programa de transferência de renda que atenuava as questões de violência porque oferecia proteção social. “Agora, acabou o Bolsa-Família e esse governo da morte coloca um programa eleitoreiro – esse Auxílio Brasil – que vai deixar milhões de pessoas, mulheres, principalmente, desamparadas”, afirma a dirigente. Para Juneia Batista, a perspectiva que se tinha de aumento da violência se Bolsonaro fosse eleito, se concretizou. “São tempos sombrios e para nós mulheres, principalmente as negras, tudo ficou muito pior. Somos agredidas física e psicologicamente e a cada dia estão nos matando mais”, afirma. Ainda segundo ela, a conduta do presidente – machista e misógina – não só contribui, como estimula muitos homens, que já apresentam características violentas e patriarcais, a praticar as agressões. “A política de Bolsonaro dá esta permissão e não podemos assistir tudo isso sem denunciar e sem lutar para que isto não continue”, diz Juneia. A dirigente alerta que tudo o que vinha sendo feito em termos de investimentos em políticas para as mulheres, foi desmontado desde o golpe de 2016, contra a presidenta Dilma Rousseff, o que contribuiu ainda mais para aumento de casos. Um exemplo é a Casa da Mulher Brasileira, política pensada para oferecer atendimento multidisciplinar às mulheres vítimas de violência com acolhimento, assistência jurídica e alojamento em casos de risco de feminicídio. O programa recebeu apenas R$ 1 milhão no governo Bolsonaro, valor que segundo Juneia, é absolutamente insuficiente para sua manutenção.21 dias de ativismo
A situação alerta para a importância de não somente as mulheres brasileiras, mas todas e todos que têm a consciência de que se trata de uma grave situação a se engajarem nos 16 dias de ativismo mundial e nos 21 dias de luta no Brasil, a campanha chamada “21 Dias de Ativismo contra a Violência Contra a Mulher”. A CUT integra esta campanha, que é impulsionada pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo fim da violência contra meninas e mulheres do mundo todo. Em âmbito Internacional, ela ocorre em um período de 16 dias, com início em 25 de novembro. Mas, no Brasil, começa no Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e vai até o dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. São várias as atividades durante este período, como em todos os anos. O coletivo de mulheres da CUT-SP , por exemplo, promove debates e oficinas virtuais para tratar do tema. No entanto, em 2021 será feita uma grande marcha em capitais e cidades do interior. “É a marcha Bolsonaro Nunca Mais, no dia 4 de dezembro. Neste dia vamos denunciar o aumento do feminicídio durante a pandemia, da fome e da pobreza no Brasil, e levaremos ao centro do debate o fato de que o agressor está dentro de casa”, afirma Juneia.Pobreza na pandemia
Nove em cada dez mães de favelas tiveram dificuldades para comprar comida para a família por causa da perda de renda, fim do auxílio emergencial e dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho – a taxa geral do desemprego das mulheres é 39,4% superior à dos homens. Enquanto para eles a taxa de desocupação é de 11,7%, para as mulheres é de 17,1%. Os dados são do segundo trimestre de 2021, levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Continua), do IBGE. Juneia reforça que a desigualdade entre homens e mulheres ficou ainda maior na pandemia. As mulheres foram as que mais perderam empregos. Em situação maior de vulnerabilidade, as negras chegam a ganhar até 159% a menos que os homens brancos da mesma profissão, e as mulheres que são as mais responsáveis pelos cuidados da casa e da família. Com apoio da CNTSS e CUT-SP[learn_press_profile]