Após a realização de seu 14° Congresso Nacional, a CUT participou de importantes eventos internacionais na Espanha, que reuniram entidades do movimento sindical de vários países. O objetivo foi discutir estratégias de enfrentamento à extrema direita em nível global. Representando a Central e o Observatório Social da CUT, Lucilene Binsfeld, a Tudi, viajou à Espanha para contribuir com os debates, expor as ações e estratégias dos movimentos populares no Brasil contra o avanço do fascismo, bem como debater ações de organização com outros sindicatos para a formulação de uma estratégia comum aos países, entre elas a negociação coletiva.
Com o tema Sociedade, direitos e extrema direita – a sombra do capitalismo no século 21, o congresso realizado em Valência, nos dias 27 e 28 de outubro, pela Fundação 1º de Maio (Fundacion 1 de Mayo, no nome original, em espanhol) foi diretamente ao ponto que mais ameaça as democracias de vários países – o avanço das forças extremistas.
A apresentação do evento propôs que os debates fossem um espaço de reflexão e formação, além de uma ‘plataforma para a reafirmação dos valores democráticos’.
“A penetração social, política e institucional da extrema direita é de tal magnitude que se tornou uma ameaça real ao modelo social que aspiramos e pela qualidade dos sistemas democráticos”, diz o documento.
Além da CUT, participaram desses debates, representantes de outras entidades, acadêmicos e jornalistas. As mesas temáticas abordaram direitos humanos, xenofobia, os mitos sobre a extrema direita, o impacto do extremismo sobre as mulheres e os discursos e estratégias de mídia da extrema direita.
Em sua apresentação, Lucilene reafirmou que o avanço do neoliberalismo permitiu um fortalecimento da extrema direita em internacionalmente. Por isso, ela disse, “é fundamental unir esforços para reforçar a democracia e o internacionalismo de nossas organizações e de nossas sociedades e juntos construirmos estratégias para frear tantos retrocessos que ocorreram em muitos lugares e também no Brasil”.
A dirigente ainda fez um panorama dos fatos ocorridos no Brasil, desde a articulação que levou o país a sofrer um golpe, com o impeachment de Dilma Rousseff, passando pela eleição de Jair Bolsonaro, as reformas que retiraram direitos da classe trabalhadora, a fome, e a ofensiva ideológica que recrudesceu a violência contra grupos minorizados como a população negra, as mulheres, LGBTQIA+, povos indígenas, grupos historicamente considerados pelas forças extremistas como ‘inimigos’.
“Há uma crise civilizatória no Brasil, onde a lógica do lucro prevalece e onde a extrema direita faz ataques sistemáticos à democracia, aos direitos humanos e ao Estado Democrático de Direito”, ressaltou Tudi no Congresso.
Ela observou ainda que mesmo com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em uma contraofensiva das forças progressistas para salvar a democracia, a extrema direita ainda está de pé e precisa ser constantemente combatida.
“Ganhamos as eleições, mas a extrema direita segue organizada e com muita força no Congresso Nacional, tanto na Câmara de Deputados, como no Senado, além dos territórios locais. Precisamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a extrema direita para fazer o combate, tanto do ponto de vista político ideológico, quanto organizativo. Por isso, desde a perspectiva da CUT Brasil é essencial fortalecermos os Comitês Populares e Brigadas Digitais da CUT, com tecnologias e banco de dados”. Disse a dirigente.
Tudi também destacou a atual situação da Argentina onde a ameaça de a extrema direita chegar ao poder caso o candidato Javier Milei vença as eleições presidenciais, cujo segundo turno ocorre no dia 19 de novembro.
“Continuamos juntos com nossos companheiros e companheiras da Argentina para que depois da vitória de 22 de outubro, sigamos juntos até a vitória de 19 de novembro, como dizemos no Brasil, ele nunca!”, pontuou a dirigente.
Seminário Redes
Já nos dias 30 e 31 de outubro, Lucilene Binsfeld representou a CUT e o Observatório Social no seminário Redes – Enfrentar as extremas direitas a partir do mundo do trabalho. No evento, em Barcelona, organizado pela Rede Sindical Internacional de Solidariedade da qual a CUT faz parte junto com outras centrais de outros países, em parceria com as Comissiones Obreiras (CCOO, entidade sindical espanhola).
“Nossa participação foi justamente para traçar um panorama dos países ameaçados pela extrema direita”, diz Tudi. Com ela participaram dos debates a CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho), a CUT Chile, a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), a própria CCOO, a TUC (Trades Union Congress – central sindical do Reino Unido) e a Confederação Geral do Trabalho (Confédération Générale du Travail – CGT). A Fundação Rosa de Luxemburgo também participou da organização do seminário.
No evento, além de abordar as questões inerentes ao avanço do extremismo no Brasil, a dirigente apresentou, conforme objetivo do seminário, propostas e experiências de enfrentamento, entre elas os Comitês de Luta e as Brigadas Digitais da CUT, como ferramenta de formação de opinião, combate a fake news e disputa ideológica na sociedade.
“Mostramos as nossa brigadas digitais, experiência que foi elogiada e reverenciada pelos demais companheiros por ser uma ferramenta eficaz de combate à ascensão da extrema direita. A estratégia envolve os três pilares mais importantes para a classe trabalhadora se opor ao fascismo: formação, organização e comunicação”, disse Tudi.
Para além do tema, outras estratégias de organização e unificação de ações entre as entidades sindicais foram debatidas como a negociação coletiva, com foco na organização das mulheres. “Tivemos uma reunião para pensar os próximos passos e entre as alternativas que nos aprofundaremos é a negociação coletiva, ou seja, como trabalhar para unificar pautas importantes”, disse a dirigente explicando que a ideia do seminário foi pensar estratégias globais para ações locais.